segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Contos Africanos: O justo rei

O amor vem da África
      O respeito vem da mata
            Contos inspirados nas tribos raízes da cultura brasileira
Leila Miana



O justo rei

Todos queriam morar naquela tribo. Quando o Sol acordava, todos levantavam, mas se alguém estivesse com preguiça, podia dormir mais um pouquinho. Depois de já ter descansado poderia recompensar o tempo perdido das tarefas.

Cada pessoa sabia da importância de sua função na comunidade. Eles não precisavam ser obrigados a fazer o que não queriam, mas em troca deviam fazer bem o que escolheram. Pois se foi escolha deles mesmos trabalhar naquela função, deveriam fazer com carinho.

O fim da atividade de um é o começo da função do outro. Por este motivo era importante respeitar o seu espaço e de todos da comunidade, pois na verdade, o espaço é um só.

O rei era muito bom e justo, tratava todos com respeito e estava sempre disposto a ouvir e ajudar no que fosse preciso. Ele mantinha a harmonia de todas as relações daquela comunidade e era responsável por esta função já há muitos anos.

A medida que o tempo passava, as coisas melhoravam, as hortas frutificavam, os animais cresciam e as pessoas se entendiam melhor. A cada ano, a tribo ficava mais harmônica, mais gostosa de viver. Todos eram unidos, amigos e felizes.

E as crianças? Sumiram? Para evitar maiores atritos, as crianças estavam proibidas de brincar. Ficavam trancadas em suas casas e só podiam ler o mesmo livro, todas as vezes o mesmo livro. Era um livro que os ensinava como se comportar quando for obrigado a conversar com outra pessoa, mas isto deveria ser evitado. O livro ensinava que conversar não era bom.

A tribo continuou vivendo infeliz durante muitos anos, mas dizem por aí que algumas pessoas pararam de ler aquele livro e descobriram que tinha um mundo inteiro a ser lido do lado de fora da cabana. Ouviram dizer que um antigo rei achou felicidade viajando e que só retornaria para casa quando a felicidade voltasse a vila. Essas pessoas começaram a viajar e viajar muito.

Em um belo por do sol, apareceu na vila uma senhora muito cansada pedindo abrigo e água. Antes que conseguisse conversar com qualquer morador da tribo o tempo virou. De repente caiu uma enorme tempestade e todos correram para se proteger. Na mesma hora o rei abriu sua cabana e viu a senhora cansada, recebeu e serviu sua nova hóspede.
- Sinta-se a vontade minha senhora. Todos são bem vindos em minha humilde cabana.
- O senhor é um homem muito caridoso e justo. Mas dedica sua vida a atender os outros. Isto não te cansa?
Não sente vontade de cuidar dos seus próprios problemas?

O rei não respondeu, mas começou a pensar:
     “Essa senhora tem razão. Dediquei minha vida toda por este povo. Agora vou cuidar de mim.”

Assim como a chuva que surgiu de uma hora para outra, o Rei mudou. Arrumou suas malas e colocou o pé na estrada. Sem medo. Não se despediu de ninguém e foi correr o mundo. Conheceu as montanhas mais altas e as praias mais belas. Desbravou grandes florestas, penetrou grutas e atravessou rios. Foi ao cerrado, ao deserto, saboreou todas as frutas e sentiu o aroma de todas as flores.

Contudo, quanto mais o tempo passava, mais ele estava sozinho. O rei não tinha com quem conversar. Não tinha os amigos e não estava mais feliz. A saudade apertava seu peito e a angústia o consumia. Resolveu retornar para sua terra, voltar para sua raiz, seus amores, sua vida.
                                                          
No dia que chegou viu tudo diferente. As ruas desertas e as cabanas mal cuidadas, sem palha, maltrapilhas e sujas. As hortas vazias, parecendo abandonadas. Os animais magros e fedorentos. As árvores secas e frutas podres caídas pelo chão. Os poucos habitantes que passavam, estavam sujos, fedorentos, brigando e falando alto.

Tudo mudou depois que ele fora embora. Ate o céu, que antes era sempre azul, permanecia sempre cinza. As pessoas pararam de se respeitar e, assim, pararam de cuidar uns dos outros. Eles se estranhavam e brigavam, cuspiam e sujavam as ruas, gritavam e chutavam coisas na rua.

O rei estava muito confuso e as coisas estavam extremamente diferentes. Aquelas pessoas já não eram mais as mesmas. Se prenderam em suas cabanas e não se encontravam mais. Se prenderam em seus próprios medos e então todos, absolutamente todos, tinham se tornado pessoas infelizes. Estava tudo errado!

Então ele entendeu: na hora que sua tribo mais precisou, ele estava distante e não pode ajudar. O rei não cumpriu a sua função e gerou uma confusão! Ele próprio abandonou seu trabalho no equilíbrio daquela comunidade e prejudicou a vida de todos os habitantes.

Antes de alguém perceber que o rei tinha retornado, ele começou a chorar. E de tanto chorar, começou a derreter e assim aconteceu uma mágica: ao derreter ele começou a se deformar e se transformou em uma grande pedra.

Cada vez que voltavam para casa, estavam mais felizes e deixavam os outros mais felizes. Aos poucos a felicidade is se espalhando e muitos esperavam a hora de rever o rei.

Quando a vila se inundou de felicidade todos voltaram a trabalhar com gosto e também voltaram a respeitar uns aos outros. O rei já nem fazia falta mais, não precisava voltar.

A grande pedra em que o rei havia se transformado se modificou mais uma vez e em sua superfície apareceu escrito, como se alguém tivesse talhado a pedra:
"Justos são os que se respeitam e se amam".

Contos Africanos: O caçador de uma flecha só

O amor vem da África
      O respeito vem da mata
            Contos inspirados nas tribos raízes da cultura brasileira
Leila Miana


O caçador de uma flecha só

Era uma tribo onde tudo se festejava. O rei adorava comemorar todos os bons acontecimentos da região. Tudo era motivo de alegria. Mudou o ano? Festa! Nasceu criança? Festa! Sacrificou um animal? Festa! Hora da colheita? Mais festa!

Aliás, a festa da Colheita era a mais importante e divertida de todas as festas africanas. Era um dia especial, em que eles colhiam todos os alimentos que iriam ser estocados até o ano seguinte. Era a consagração de um ano proveitoso e a esperança desta continuidade...

A Festa da Colheita era anunciada para a comunidade há apenas dois dias antes de acontecer, pois os agricultores esperavam o momento certo para colher os alimentos. Naquele tempo, naquela tribo, as verduras, legumes e frutas ficavam no ponto certo de colher ao mesmo tempo, no mesmo dia. Que era o dia em que anunciavam que poderia ter festa!

Enviavam mensageiros a todos os cantos anunciando que o dia havia chegado! Eles iam até as cabanas que ficavam próximas e nas distantes também, nas da beira do rio e de dentro da floresta, nos altos dos morros e nas profundezas dos vales.

Iam à cabana de todos os moradores, exceto de um, o feiticeiro que morava no pântano. Todos morriam de medo do velho feiticeiro e sempre arrumavam uma desculpa para passar longe da cabana daquele homem.

O rei mandava avisar a todos moradores, TODOS, mas nenhum mensageiro tinha coragem de atravessar o pântano e muito menos de falar com o feiticeiro. O pior, é que nenhum mensageiro contava ao rei que o senhor que vive trancado na cabana assustadora nunca havia sido convidado para nenhuma festa.

O rei não sabia que um convite não era entregue, pensava que o feiticeiro nunca vinha as suas festas por que tinha muitos afazeres, não podia perder tempo com baboseiras tipo essas. Era um homem ocupado e muito importante para a aldeia.

Por sua vez, o feiticeiro que de muito ficar triste com essa história, já estava com raiva.
- Todo ano a mesma coisa. Eles celebram e não me convidam! Esse ano vai ser diferente. Vou fazer uma magia e eles não terão colheita!

O feiticeiro foi para a floresta, recolheu alguns cogumelos, aranhas, ervas, folhas, mosquitos, formigas e musgos. Pegou um grande galho de obá-obá[1] para usar como colher. Ele também pegou um coelho pela orelha e levou para prepará-lo.

Ao chegar em sua cabana, dourou uma cebola na manteiga e fez uma mistureba com aqueles ingredientes, jogou tudo no caldeirão e começou a temperar o coelho. O bicho seria servido cru mesmo, só o tempero ia à fogo.

Colocou tudo em uma bacia de barro e levou para o quintal. Naquele Sol quente o movimento foi rápido: na mesma hora um grande pássaro negro apareceu e devorou o coelho.

O pássaro alçou voo novamente e pousou em cima da cabana do rei. Lá ele pousou por vários dias, sete luas se passaram e o pássaro continuava lá, estático.

Um mensageiro foi até o rei com péssimas noticias:
        - Não teremos colheita este ano.
        - Como não?
- Os alimentos estão verdes ainda... A esta altura já deveriam estar maduros e nada. Não se modificam, não amadurecem, parece que serão verdes eternamente.

        Foi quando o Rei teve um estalo em seu pensamento:
- Será que isso tem relação com o pássaro negro no teto?
- Provavelmente sim, me parece que este é um pássaro amaldiçoado.
- Vamos matá-lo!

O rei mandou chamar todos os caçadores da tribo para matar o pássaro. Vieram homens fortes, com muitas flechas e muita disposição para enfrentar aquela maldição.

 Surgiu então um caçador com uma flecha só. Todos riram dele.
        - Como poderá matar com uma única flecha? – queria saber o Rei, antes de anunciar:
- Quem matar o pássaro negro vai ser o caçador mais importante da tribo! Sem ele voltaremos a ter comida e festa!

Os caçadores fizeram uma vila para tentar acertar o pássaro. Primeiro veio o caçador de 25 flechas e nenhuma acertou o alvo. Em segundo o caçador das 80 flechas e, mais uma vez, nenhuma acertou no pássaro amaldiçoado...

Em terceiro, o caçador das 150 flechas, a primeira de raspão, a segunda também, a terceira passou longe e assim todas as outras também fizeram. Nenhum caçador conseguia acertar o bicho. Estavam todos nervosos, ansiosos, desesperados, alucinados.

O caçador de uma flecha só se mantinha calmo e caminhava em direção a cabana do rei. Todos riram quando ele passava. Se tantos caçadores fracassaram, aquele parecia um bobo caminhando com uma única flecha na mão.

Ele parou em frente a cabana e olhou bem para aquele monte de penas em cima do telhado. Respirou fundo, concentrou e atirou a flecha certeira na testa do grande e amaldiçoado pássaro negro. Que desapareceu como fumaça.

Todos comemoram e iniciaram a festa mesmo sem os alimentos prontos. Foi tanta alegria que ninguém se lembrou de agradecer o caçador de uma flecha só.

Mas ele nem se importou com isso, já caminhava calmamente de volta pra sua cabana, quando o rei se aproximou e valou:
- Caçador não vai comemorar conosco?
- Não, senhor, vou para casa descansar.
- Estamos muito gratos! Como posso recompensá-lo? O que devemos fazer?

- A vida já é muito difícil para todos, devemos viver em harmonia, calmos e serenos.
Na hora o rei não entendeu, mas achou por melhor deixar o caçador descansar sozinho em sua cabana.

Muito tempo se passou até o Rei compreender: enquanto todos estavam nervosos e ansiosos não conseguiram solucionar o problema que os afligia. Com o lançar de uma única flecha, o caçador calmo e concentrado conseguiu alcançar a solução.



[1] Grande árvore de origem africana.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Contos Africanos: O mundo nasceu na África?...

O amor vem da África
      O respeito vem da mata
            Contos inspirados nas tribos raízes da cultura brasileira
Leila Miana



O mundo nasceu na África?...

Antes de o mundo ser como ele é hoje, todos continentes eram grudadinhos. Na verdade, era um continente só, cercado por um oceano só. Como se fosse uma única ilha gigante.

Uma antiga lenda africana conta como isso mudou. Foi quando uma jovem trabalhava ajudando sua mãe com os afazeres de sua cabana. Ela sempre ajudava muito, na horta, com os bichos, na mata e em tudo que fosse preciso.

Às vezes, a moça tinha que passar o dia inteiro a pilar inhame. E ela achava aquilo muito chato, fazia numa má vontade que só vendo, mas fazia sem reclamar. Um dia, muito distraída, perdeu o controle do movimento que repetia sem parar e a sua mão escorregou do pilão.

O pilão era muito pesado e quando ele caiu, bateu tão forte no chão... Espatifou o mundo. O chão começou a rachar lentamente e a jovem não entendia nada.

O que fazer? Sair correndo ou começar a chorar? Mas as rachaduras aumentavam muito rápido e ela não teve escolha: sentou em um pedaço do chão e chorou muito.

Aos poucos aquele grande continente que antes era um só, começou a dividir em seis.

As lágrimas da moça escorriam entre as rachaduras e fizeram nascer os rios, que logo foram se juntar ao mar.

Ah... E o mar? Que antes era um só, agora se multiplicou em vários oceanos, formando um novo mundo: vários continentes, vários mares. Tudo mudou e a moça chorava.

Resolveu correr desesperadamente para se desculpar com sua mãe. Que há esta hora já voltava calmamente para cabana e encontrou a filha no meio do caminho.

Foi uma surpresa para a jovem quando encontrou a mãe sorrindo calmamente. E ela ali, extremamente aflita:
- Mãe! Eu destruí tudo!
- Calma filha, você criou um novo mundo!

A mãe sorriu e explicou para a moça que não conseguia compreender tanta calma...
- Nada acontece por acaso e tudo pode ter outro ponto de vista. Você, minha filha, estava trabalhando distraída e isto não pode acontecer nunca. O trabalho deve ser levado a sério.
Contudo tenha calma. Olha que maravilha que tudo isto virou. As coisas vão ser diferentes agora.

- Diferente não é bom! – reclama a menina.
- Por que não? Diferente é excelente. Nós duas somos diferentes e nos amamos muito.

A menina compreendeu o que a mãe queria dizer. As lágrimas secaram e seu coração acalmou. Pegou uma cuia, encheu com a água do rio e tomou um gole de suas lágrimas. Sentiu ali que criou mesmo um novo mundo.

Mas a mãe lembrou:
- Agora as coisas são diferentes e tudo mais distante. Para que tudo corra bem, devemos lembrar todos os dias de respeitar todas estas diferenças, que serão cada vez maiores.
- Vai ser difícil, não é mãe?


- Sim, nunca será fácil. Respeitar diferenças é muito difícil, pois é aceitar que mesmo não sendo igual a você, o outro é muito interessante e pode te fazer feliz!

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Contos Africanos: O menino de palha

O amor vem da África
      O respeito vem da mata
            Contos inspirados nas tribos raízes da cultura brasileira
Leila Miana



O menino de palha

Há muito tempo atrás, uma rainha Africana deu a luz a um menino muito feio, sua pele era toda revestida de micoses, com algumas manchas de cores variadas. Ele também não tinha nenhum pelo no corpo, não nascia nada, coitado. Não nascia cabelo nunca, carequinha... E o cheiro que ele tinha? Nossa! Sem explicação, esquisito que só... Ninguém entendia...

A rainha já muito aflita, queria uma solução e achou melhor levar a criança ao curandeiro de sua tribo. Ela esperava que ele fizesse algum tipo de magia e a única coisa que o sábio lhe disse foi:
- Se acalme minha senhora, este é o destino de seu filho. Tenha calma.

A mãe saiu enfurecida com o curandeiro. Ora bolas, como haveria de ter calma diante de tal situação? Como uma rainha poderia ter um filho tão feio, nojento e fedorento?
“Isto não poderia ser o certo”, pensava ela.

Resolveu por assim, que não iria criar aquela criança esquisita. Embrulhou o menino em um monte de palha e o colocou em um cesto. Foi para a beira do rio, pediu perdão e abandonou o filho na água corrente, que o levou para o mar.

E não é que lá na beira-mar, onde o rio encontra o oceano, uma linda mulher penteava seus longos cabelos com os pés na água. De repente o cesto veio e parou, assim, no calcanhar da moça.

O menino não chorou, pois tinha tanto medo que a voz não saia. A moça não se assustou. Agradeceu o presente que veio no rio. Levantou e pegou o cesto em seus braços, pôs-se a caminhar até sua vila.

Em sua cabana, a moça abriu o manto de palha e não se assustou com o que viu. As doenças da criança não a incomodavam e ela sorriu para o neném.

Preparou uma bacia de água morna e começou a banhar o filho que o rio lhe deu. Recolheu algumas ervas e preparou uma pasta para cuidar de suas feridas. Das frutas e sementes da floresta, passou a alimentar o menino, que lhe sorriu.

Muitos anos se passaram, mas o menino continuava a sofrer, não conseguia esquecer os maus tratos daquela mãe que o jogou no rio, tinha vergonha de ser quem era e só queria ficar escondido.

A senhora que cuidou dele durante toda sua vida insistia:
- Vamos meu filho, vamos passear.
- Não, não vou. Nada me tira dessa cabana. Quando as pessoas me olharem, vão rir de mim, eu sinto.
- Deixe de bobeira, meu filho. A beleza é interior!

        Um dia chegou um convite especial: era para o festival de fim de ano de todas as comunidades e para todos africanos. Por isso todos deveriam participar desta grande celebração.

Mas como a mãe adotiva iria convencer o menino a ir?
- Já sei! Vou fazer uma roupa toda de palha, que lhe cubra ate o rosto. Assim você poderá festejar o fim de ano com todos nós! E não sentirá vergonha de ser quem é.

Chegando na festa, logo se animaram. Tudo estava lindo: lindos cantos, muitos tambores, muita comida, bebida, luzes e alegria! Todos estavam dançando em uma grande roda.

Não tardou e a senhora logo se empolgou, entrando na grande roda para se divertir. O menino, muito tímido, queria só ficar de canto, escondido.

Não demorou muito e uma bela moça chegou e o puxou pelo braço para participar da roda. A moça rodopiava, balançava, ventava, mas não largava a mão dele. Todos na roda sorriam e recebiam o menino de palha sem se importar em como ele estava vestido, em como ele era, tudo que importava ali era ser feliz.

E feliz estava, cada vez mais. A felicidade lhe invadia o peito e se espalhava como uma luz dourada por todo seu corpo. Todos ali eram amigos, aparências não importavam e quanto mais felizes, mais dançavam, mais ventavam.

E o vento, aos poucos, foi levando a palha embora. Bem devagar, foi surgindo o corpo de um rapaz e todos iriam conhecer o seu sorriso. Aos poucos, todos foram conhecendo sua beleza. Lentamente, o menino (que agora já era um rapaz) foi compreendendo tudo.

Já não era feio e doente há muitos anos. O amor incondicional daquela senhora já havia lhe curado e lhe ensinado que por amor e com amor o caminho se torna mais suave.


O menino já havia compreendido que as diferenças entre as pessoas não devem abalar o espírito de equipe. O menino aprendeu que dificuldades podem ser superadas pela força do amor.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012



·         Como as atividades de contra turno auxiliam no desenvolvimento dos alunos?


As atividades de contraturno enriquecem o currículo pedagógico e são capazes de modificar a realidade em que os alunos vivem. Alias, qualquer atividade que amplie a absorção de conhecimento e que tende a qualificar a estrutura de vida de uma pessoa, é uma preparação valida.
As aulas de extraclasse intensificam as capacidades intelectuais e motoras dos alunos. Digo isto, pois uma pesquisa recente relatada pelo palestrante Ken Robinson (http://www.sirkenrobinson.com/) mostra que a pedagogia tradicional inibe a inteligência dos dicentes: 98% das crianças entrevistadas entre 3 e 5 anos foram consideradas gênios; de 5 a 8 anos o percentual cai para 32%; e entre 13 a 15 anos apenas 10% foram vistos como gênios.
Desta forma, percebe-se que a inserção de atividades extracurriculares são extremamente benéficas pelo seu poder de incentivar a criatividade e a criticidade na formação de valores dessas crianças. Tornando-se nítido que crianças que estendem seu tempo escolar, se tornam mais ágeis e mais participativas no âmbito escolar, diferente das que apenas cumprem a rotina escolar da LDB (Leis de Diretrizes e Bases:http://portal.mec.gov.br/).
            Qualquer atividade extra é um estimulo, quanto mais a criança puder se envolver em modalidades diferentes, mais possibilidades ela alcança, desde que não a sobrecarregue. Isto porque, estas atividades precisam ser divertidas e envolventes, lembrando sempre que nada supera a brincadeira.

quinta-feira, 15 de março de 2012

O Menino Contador



No início da última década de 60, um grupo de americanos mobilizou “por debaixo dos panos” uma revolução contra o pré-conceito racial. O líder, Martin Luther King, ao relatar o acontecido em seu livro Não Podemos Esperar, descreve detalhadamente como organizou um exército-sem-armas mostrando aos cidadãos americanos que uma luta não necessita de violência, mas de convicção.

No fim dos comícios, eu, Albernathy ou Shuttlesworth fazíamos um apelo aos voluntários para servirem no nosso exército não-violento.  [...], persuadimos os voluntários a se desfazerem de qualquer arma que estivesse em seu poder. Centenas de pessoas acudiram a este apelo. [...]
Provamos-lhes que não necessitávamos de armas – nem mesmo de um palito. Demonstramos-lhes que possuíamos a mais formidável de todas as armas – a convicção em que nos baseávamos. [...] Pessoas se apresentavam às dezenas para participar de nosso exército. [...]
Era um exército que se locomoveria sem causar dano. Um exército que cantaria, mas não mataria. Um exército que defenderia, mas não fraudaria nada. Exército para atacar os baluartes do ódio, para cercar os fortes da segregação, sitiar os símbolos da discriminação. (p.62-63)

Aconteceu que os discursos do Movimento Negro nos Estados Unidos tomaram grande proporção e modificaram a realidade social do país.  Sendo que toda esta movimentação ocorreu sem o uso de violência – por parte dos manifestantes, pois estes sofreram represálias e agressões físicas dos que insistiam em segregar a população por cor de pele.
Muito tempo se passou, mas em diversos pontos do mundo ainda existem segregações sociais que incomodam o olhar do bom. Vivemos em uma realidade capitalista que exclui aqueles que não conseguem acompanhar a sede de consumo e a imposição de valores financeiros sobre tudo: objetos, pessoas e desejos.
Quando finalmente decidi ser aluna de Pedagogia, já estava em meu limite de insatisfação em como as relações sociais vem se desenvolvendo dentro de diversas comunidades. Parti do princípio que para ver a diferença, tinha que começar mudando meu interior. Me envolvi apaixonadamente pelas teorias pedagógicas e aos poucos estou aprendendo a levar essas mudanças para a prática.
Passei dois anos acompanhando uma turma inesquecível de 23 crianças de 2 até 4 anos. Mudou minha vida, mudou minha maneira de olhar o outro, mudou a intensidade da responsabilidade que eu iria ter com minha vida dali em diante. Ao definir que lidaria com crianças como opção de trabalho - sendo ele voluntário ou remunerado, passei a ter consciência que RESPONSABILIDADE é o meu motor. 
Esta palavra deve ser o que faz o meu, o seu, o nosso mundo girar, pois a responsabilidade começa dentro de nós mesmos, somos responsáveis por aquilo e aqueles que cativamos. As crianças depositam suas expectativas de felicidade no trabalho que ofereceremos a elas. Essas expectativas só serão preenchidas com base na nossa responsabilidade perante este trabalho!
Caminhando neste ideal, tenho me deparado com diversas pessoas de coração equivalente ao meu, a cada dia que passa tenho mais provas que a utopia de uma sociedade mais justa pode se tornar real a medida que formamos laços de cooperatividade. Neste caminhar, encontrei um irmão, que me impulsiona a fazer isto acontecer: o Jam.
Jamerson Mancio (jamersongsa2012.blogspot.com) completa 31 anos hoje, com certeza de que sua passagem por aqui é de fazer o bem. Juntamos nossas ideologias e estamos colocando-as em prática. Estamos na expectativa para ele se tornar um Guerreiro Sem Armas, que assim como a turma de Luther King, vai a luta sem violência, mas com atitude:

O Guerreiros Sem Armas é um programa internacional de formação vivencial de jovens em liderança e empreendedorismo social, que são treinados em tecnologias para transformação de realidades em qualquer lugar do mundo. (http://www.guerreirossemarmas.net/)

Não acho que demorei pra encontrar o caminho do bem, cheguei na hora certa, na hora que sei que estou apta para assumir esta responsabilidade, preparada para enxergar nas diferenças o ânimo para luta.
No dia que resolvi arregaçar as mangas pra começar meu processo de mudança interior no intuito de mudar o exterior, encontrei o Jam, assim repentinamente, passando de carro, na correria do ganha pão dele, um trabalho ótimo, mas que não o fazia feliz. Quando ele me perguntou por que eu ia largar meu emprego naquele dia, tentei convencê-lo com uma única frase:
“A hora de mudar é o agora!

O post de hoje é uma homenagem ao aniversariante, que me inspira como Luther King e me abraça como irmão, pai, amigo destes que a gente não encontra por ai...

Leila Miana
Pesquisadora de Educação
15 de Março de 2012

quinta-feira, 1 de março de 2012

Formando adultos



Desde que o mundo é mundo, adulto é adulto e criança é criança. Certo? Não. O conceito de criança foi sendo elaborado através das modificações sociais que vivenciamos.
Dalla Vale, em seu livro Fundamentos da Educação Infantil (Fael, 2010) ressalta que “ao longo do séculos, as sociedades foram construindo formas de educar suas crianças” e assim de classificá-las perante a sociedade que estão inseridas. Ou seja, o conceito de infância vem sendo definido de acordo com o momento histórico em que é pesquisado, pois:

“Sabemos que a história da criança é registrada a partir do olhar dos adultos,pois a criança não pode registrar sua própria história. [...] A visão sobre a infância, atualmente, como um período específico pelo qual todos passam é uma construção definida no momento presente. A questão de que todos os indivíduos nascem bebês e serão crianças até um determinado período, independente da condição vivida, é inegável, entretanto, tal premissa nem sempre foi percebida dessa maneira e por diversos períodos se questionou qual era o tempo da infância e quem era a criança.” (Rocha, p.52)

Muitos classificam crianças por faixa etária ou fases de aproximação de interesses, contudo, até nos dias contemporâneos esbarramos nas dificuldades de realmente definir a infância.  
Aliás, o termo infância surge do francês “enfant” que significa “não falante”, sendo assim a criança é excluída do meio social, pois lhe é atribuído o adjetivo da incapacidade de se comunicar. A sociedade não engloba a criança como ser social que é, mas como um ser paralelo, onde em um mesmo mundo, vivemos dois: o Mundo dos Adultos e o Infantil.
As crianças passam a infância se modelando para a vida adulta, mas os adultos se esquecem disso e segregam a sociedade com padrões de comportamento para crianças diferenciados e excludentes do universo adulto. O erro mais comum no universo pedagógico é esta impossível segregação entre adultos e crianças, como se os pequenos não possuíssem vontades e atitudes, como se possível separar o passado do adulto do seu presente.
Simples assim: crianças não são diferentes do que adultos, são apenas o passado destes. Porque esquecemos disso? Esquecemos que é possível englobar o conceito de criança cotidianamente, que devemos lembrar e reforçar que estão inseridas no meio social.


Mas para desfazermos este mal entendido, algumas questões sociais devem ser repensadas e reformuladas. Partiremos então do ambiente mais influente no período de desenvolvimento de personalidade: escola.
A origem da palavra Educação (Educar + Ação) induz a modelar as atitudes dos indivíduos, ao longo do tempo criamos adultos incapazes de respeitar aos outros, como um irmão. O desvio de caráter dos futuros adultos ocorre quando não nos preocupamos em abordar as crianças como seres humanos em desenvolvimento.
A Educação contemporânea transforma sujeitos sociais em competidores entre si, que sempre disputam espaço e atenção em vez de focar no desenvolvimento do bem-comum.
Falta compreender o universo da criança como o ser que ela é, até mesmo professores e demais adultos do universo escolar, se esquecem que crianças são seres sociais em desenvolvimento. Esquecem que é a infância que vai moldar a vida adulta deste ser.
Lidando com a criança desta maneira, muitas vezes pensamos “é apenas uma criança, não entende isso ainda". Erro, pois crianças entendem e aprendem tudo, desde o primeiro estimulo que recebem em vida. Como diria Dorothy Law: “Crianças aprendem o que vivenciam.” Alias, #ficaadica ....
Os pequenos podem não responder e manter aquela cara blasé de que o mundo é completamente cor de rosa, mas dentro do seu pequeno arquivo-cérebro absorvem tudo que vivenciam e aos poucos demonstram não o que aprenderam ouvindo dos adultos, mas o que compreenderam do mundo que lhes foi apresentado por eles e no que é vivido por elas. 
Confio no poder do lúdico na formação de personalidade adulta, mas não segrego a criança do convívio humano. É na infância que aprendemos a socializar. Que devemos aprender a respeitar o próximo, enfrentar diversas dificuldades e como lidar com perdas e ganhos.

Leila Miana
01/03/2012
Oke arô! 



Fontes:
Fundamentos da Educação Infantil
Dalla Valle, Luciana de Luca – Curitiba: Editora Fael, 2010

HISTÓRIA DA INFÂNCIA: REFLEXÕES ACERCA DE ALGUMAS
CONCEPÇÕES CORRENTES
Rita de Cássia Luiz da Rocha
UNICENTRO, Guarapuava-Paraná

AS CRIANÇAS APRENDEM O QUE VIVENCIAM





quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

FIB - Felicidade Interna Bruta


Felicidade Interna Bruta
“Não existe idéia mais bem-sucedida que aquela para a qual o tempo chegou”
(Victor Hugo)

O “Reino da Felicidade” utiliza como medida de sua riqueza o Índice de Felicidade Interna Bruta – FIB. Não, não é um conto de fadas, o país que carrega o codinome mencionado é o Reino Budista do Butão, situado na Ásia. “Ciente da importância de ter súditos felizes, Jigme Singye Wangchuck, o rei do Butão, criou há mais de 30 anos um índice de desenvolvimento social baseado em pesquisas que procuram mapear o que pode trazer felicidade para seu povo. O FIB, ou Felicidade Interna Bruta, tornou-se então o fator determinante na aplicação das políticas governamentais desse minúsculo reino de orientação budista entre a China e o Tibete.” (http://vidasimples.abril.com.br)
Enquanto o Brasil e diversos países utilizam o Produto Interno Bruto – PIB como medida de riqueza, representando a soma de todos os bens e serviços finais produzidos nestas regiões (durante um período determinado), o Governo Butanês corre na direção oposta da globalização social e sustenta intencionalmente um isolamento cultural, sendo que “diferentemente dos índices econômicos tradicionais, o FIB inclui também questões inteiramente subjetivas, como taxas de emoções negativas e positivas da população, avaliação da saúde mental, social e espiritual dos habitantes ou possíveis causas geradoras de estresse”. (http://vidasimples.abril.com.br)
Percebe-se que onde o PIB é o método utilizado, a sociedade, em sua maioria, se considera infeliz. Muitas cidades brasileiras com alto índice no PIB “continuam carentes de água, luz, escolas, saúde, segurança, habitação, lazer e outras amenidades hoje consideradas importantes para a felicidade.” (Revista Viver, Junho 17 – 2011)
A ideologia do FIB é muito bonita, mas é viável em uma cultura como a brasileira? Uma sociedade que cultiva valores como cobiça, ambição e competição como degraus para a felicidade se encaixaria no perfil do FIB? “Uma conferência em junho de 2008 foi organizada para se repensar a definição de progresso e nela índices como o PIB, que hoje norteiam as decisões de políticas governamentais, duramente criticados. Esse índice está cada vez mais relativizado por outros indicadores, como o IDH, que mede o índice de qualidade de vida, incluindo a educação e a expectativa de vida como fatores de desenvolvimento, e o FIB. Sinal de que o mundo está mudando. As Nações Unidas estão cada vez mais interessadas em internacionalizar o FIB”. (http://vidasimples.abril.com.br)
Considerando que para o FIB ser utilizidado é necessário mudar a cultura tradicional de uma sociedade como a brasileira. É preciso ter calma e reestruturar sua base, a educação. Em uma pesquisa do mesmo site citado, a pergunta era “Uma educação de primeira contribui para sua felicidade?” Onde 72% consideraram essencial, 25% importante, 2% razoável e 1% indiferente.
“As pesquisas sobre felicidade, no entanto, não apóiam a idéia de os governos adotarem a sua busca como meta. Ensinar, nas escolas, fatores que contribuem para alcançá-la pode ser medida muito mais eficaz. Mesmo porque, embora ser feliz seja o desejo de muitos, há aqueles que querem ser o mais rico, o mais poderoso, o mais bonito, o mais isso e aquilo, e a literatura sugere, também, que esses tendem a ser dos mais infelizes.” (Revista Viver, Junho 17 – 2011) É na escola que os perfis sociais começam a ser formados.
Na Escola Summerhill (http://www.summerhillschool.co.uk), criada por Alexander Neil (1883 – 1973, http://educarparacrescer.abril.com.br) a ênfase do ensino não é a base curricular, mas sim a difícil arte da convivência social, não que o aprendizado do currículo padrão (Matemática, Português, Ciências, História e Geografia) seja descartado, mas a escola vai além e busca a essência da intelectualidade de seus alunos. Neil não tentou educar as crianças para que estas se ajustassem adequadamente à ordem vigente tampouco a uma sociedade idealmente concebida. Seu objetivo consistiu na educação de crianças para que se tornassem seres humanos felizes, cuja noção de valores não fosse baseada na propriedade, no consumo, mas no ser.
Neil utiliza como método a abordagem humanista (Humanismo em http://pt.wikipedia.org), onde o ensino é centrado no aluno. Assim como Summerhill, existem diversas escolas humanistas, a Escola da Ponte (http://www.escoladaponte.com.pt) em Portugal ficou famosa por “regenerar” jovens infratores e violentos através da abordagem humanista.
Um doa maiores pensadores do Humanismo, Carl Rogers (http://revistaescola.abril.com.br), acreditava que o Mundo e o Homem estão em constante construção e é o próprio Homem que configura o Mundo. O Homem tem consciência de que é um projeto permanente e inacabado, busca seu próprio desenvolvimento através da experimentação. Ao experimentar, conhece. A concepção de Mundo é relativa, cada Homem enxerga o mundo baseado em suas experiências pessoais. Levando em conta que a curiosidade é natural ao Homem, buscamos este conhecimento por impulso.
Por isto, o Humanismo oferece condições que possibilitem a autonomia do aluno, intencionado para um desenvolvimento intelectual e emocional pleno. Nesta abordagem a sensação de felicidade plena é o objetivo do aprendizado. Tudo que estiver a serviço do crescimento pessoal, interpessoal e intergrupal é educação. O professor elabora um ambiente propício ao aprendizado, para o aluno buscar o conhecimento. Não transmite o conteúdo com o objetivo do aluno decorar até uma futura avaliação e depois esquecer o que deveria ter aprendido.
O professor que auxilia, induz o aluno a obter a resposta sozinho e ter prazer pelo que está aprendendo, pois é na experimentação do ambiente que o aluno compreende. Diferente do padrão atual de ensino, em que moldamos nossos alunos para passar em avaliações como vestibular, dentro de uma abordagem comportamentalista (Comportamentalismo em http://pt.wikipedia.org) sem levar em conta a formação emocional do Homem, mas somente suas conquistas materiais.
De acordo com o FIB, a conquista da riqueza material não pode afetar a saúde física ou emocional, comprometer o uso equilibrado do tempo ou interferir no tempo dedicado às práticas espirituais. As atividades econômicas, mesmo que rentáveis, também não podem prejudicar o meio ambiente ou causar danos sociais. A Educação Humanista pode ser o princípio de uma mudança social para utilizarmos o FIB como medida nacional. Conquistando uma sociedade mais igualitária, consequentemente com pessoas mais felizes. É reeducando o “futuro da nação” que, á longo prazo, poderemos obter respostas para as dúvidas que criadas.

Questionário de Índice de Felicidade Interna Bruta - FIB
As nove dimensões da felicidade de um país estão contidas nos seguintes itens:
  1. Padrão de vida econômica
  2.  Educacão de qualidade
  3.  Saúde
  4. Expectativa de vida e atividade comunitária
  5. Protecão ambiental
  6. Acesso à cultura
  7. Bons critérios de governanca
  8. Gerenciamento equilibrado do tempo
  9. Bem-estar psicológico
(http://vidasimples.abril.com.br)



Leila Barbosa Miana
Estudante de Pedagogia / UFJF
leilamiana@gmail.com
educar.amor@hotmail.com
24 de Junho de 2011